Momento de decisão
Em tempos passados, era comum o
pai decidir muito precocemente a profissão para os filhos. Já o jovem de hoje
tem maior autonomia para escolher seus amigos, seus amores e sua profissão.
Entretanto, o que se apresenta como liberdade nem sempre verdadeiramente o é.
Dentre os vários desafios da adolescência, a escolha profissional merece
atenção, principalmente nos tempos atuais, quando as alternativas e exigências
no mundo do trabalho têm se expandido de forma considerável. A modernidade traz
consigo a diversidade de várias profissões e um índice assustador de
desemprego. O mundo globalizado coabita oportunidades excepcionais, no entanto,
acentuam conflitos vocacionais nos jovens que se preparam para entrar no
universo do trabalho.
As mudanças tecnológicas e
sociais deixam laços de trabalho cada vez mais fluídos, mas em poucos anos, se
tornam obsoletas, enquanto surgem diversas outras. O conhecimento se recicla em
intensa velocidade, exigindo do profissional constante atualização. E o tão esperado
diploma não pode garantir um emprego ao jovem formado. Mas como lidar com tudo
isso?
Primeiro temos que ter a idéia de
apresentar um “dom” para determinada atividade, ter o desejo, uma chama ardente
que nos indica o que gostamos ou não, o que queremos ou não “ser quando crescer”. Ainda que a maioria
dos pais não imponha mais uma profissão ao filho, o papel da família é
fundamental, e sem dúvida, preponderante. As diversas vozes ou chamados que
incidem sobre a criança terão papel determinante em sua subjetividade e, por
conseguinte, na futura escolha profissional. O desejo de ser alguém, de ter que
se desvencilhar dos pais e ter que fazer uma escolha profissional precoce, faz
com que o adolescente passa por uma etapa de autonomia e pela necessidade de buscar
a si próprio. Em seguida, vem à fase do vestibular, muitas vezes uma prova
elitista, que contribui para aumentar o abismo entre as classes sociais. Não há
dúvida, que é uma fase significativa na vida do adolescente, funcionando com um
rito de passagem para a vida adulta, promovendo um angustiante encontro real e
um amadurecimento por sua escolha. E por fim, um projeto de vida, a busca do
bem estar e do prazer em encontrar um trabalho dos sonhos e se realizar. A alta
idealização de um trabalho perfeito e sem frustrações contribui para desiludir
aqueles que estão inseridos no mercado de trabalho. Essas decepções se acentuam
aos que escolheram a carreira movida exclusivamente pela possibilidade de
retorno financeiro. Nem sempre o reconhecimento da vocação é tarefa fácil. Já
os que descobrem sua vocação, o trabalho não se restringe a uma forma de
sustento, torna-se um meio de realização pessoal, de sentimento e de
satisfação. O projeto de vida, cujo o foco é
relação do sujeito com o seu desejo, deve ser pensado, analisado e
construído através de sua subjetividade e encontrar o que busca dentro de si,
pois escolher apesar das incertezas, é a única garantia do próprio desejo de acertar.
Heloise
Amorim é professora e jornalista.
Fonte: O olhar do adolescente, revista:
caminhos da cognição;
escolhas vocacionais; pág. 46 a 51.
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